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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Clarice Lispector - A Lucidez Perigosa

Revivendo o "momento cult" do blog, onde serão postados alguns poemas ou textos que valem a pena ser lidos.
Afinal, não só de pão e dinheiro e viagens vive o homem, cultura faz parte. Não é exatamente um texto amoroso ou romântico, mas é muito bonito.

E pra reinaugurar, a sra. Clarice Lispector e a sua Lucidez Perigosa.

A Lucidez Perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.

Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.
(C. Lispector)

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